Estar apaixonada facilita as coisas. Textos de amor são tão digeríveis. Eu não precisaria de rimas ou metáforas ricas: o amor, por si só, é poesia, mesmo em prosa. Mas, veja bem, eu não estou apaixonada. Há muito tempo não deixo que ninguém permaneça, e não sei bem o porquê; não é um exercício de desintoxicação do romantismo (não me presto a isso), é só uma impotência permanente para a doçura.
Tenho enxergado o mais fútil das pessoas – dos homens, especialmente – como se nenhum deles pudesse me desafiar tanto a ponto de me arrancar do tédio e da preguiça de construir um amor. O amor é uma decisão, e digamos que eu ainda não tenha me decidido.
Mas não me sinto um poço fundo de insensibilidade. Ao contrário: todas as pequenas coisas me tomam, cada pequeno detalhe do cotidiano que escolhi. Hoje, por exemplo, uma música me possuiu nas primeiras horas do dia. Foi como estar apaixonada.
E neste exato momento, esse livro me possui. Minha alma é frequentemente emprestada a qualquer sentimento banal que descubro, e não sobra espaço para o mais sublime, aquilo por que todos anseiam, o sentimento mais idolatrado do mundo, o amor. Mas agora, por não sentí-lo, talvez eu possa pensar sobre. Pensa-se sobre o amor depois que ele vai embora – depois que provavelmente já se fez qualquer loucura em seu nome, já se esqueceu a sanidade.O amor é um pouco de tudo, mas muito menos daquilo que pensamos que fosse. No final das contas, o amor cresce ao tempo em que se esvai, com uma proporcionalidade louca e inútil.
Não sei se me faço entender. É difícil falar de amor.
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