Vampiros emocionais




A primeira vez que eu ouvi este termo, torci o
 nariz. Naquela época, eu tinha plena 
certeza de que nada, absolutamente nada 
pode afetar o ser humano focado no seu próprio 
potencial, na sua própria luminosidade, que é 
infinita e está conosco o tempo todo, amparando-nos 
quer tenhamos consciência ou não.
- Báh! Quanta negatividade! Pensar em vampiro 

emocional é tirar o foco das próprias qualidades 
e ainda culpar o outro pelo nosso fracasso. 
Que desperdício de neurônios! Pensei.
Hoje, tendo absorvido o conhecimento taoísta, 

aprendi a falar uma palavra que acho mágica: 
depende!
- Existem vampiros emocionais?
- Depende...
- O ser humano é potencialmente ilimitado?
- Sim! Mas se ele consegue tomar 

posse desta potencialidade... depende.
- Alguém pode passar a rasteira e nos 

derrubar?
- Sim, mas este alguém não é exclusivamente 

culpado...
- Eu, então sou culpado?
- Não exatamente. Depende...
- Depende de quê, homem de Deus?
- Depende do ponto de vista.
É interessante. Por mais que a mente 

racional queira definir alguém como bom 
ou ruim, tudo depende. Depende do ponto 
de vista, depende de quem está observando, 
depende do momento observado, da situação e das
 emoções envolvidas. Em todas as situações da
 vida existem dois ou mais aspectos que podem 
ser considerados bons e ruins ao mesmo tempo! 
Quer ver?
Eu tenho um sócio terrivelmente seco e mal 

humorado. Isto é bom ou ruim? Depende. Se 
eu não estou bem, o mal humor dele pode me deixar 
mais “down”. Isto é ruim? Depende. Se eu 
perceber que isto pode acontecer, posso 
neutralizar meus sentimentos em relação 
ao sócio, e me torno mais forte. E isto 
é bom? Depende. Se eu neutralizar muito fortemente, 
posso não perceber que o sócio está precisando
 de um apoio, e não estendo a mão. Isto é ruim? 
Depende...
Este sócio pode ser uma espécie de vampiro. 

Mas é também uma espécie de mestre, sem dúvida.
O que fazer com os vampiros?
Vamos entender uma coisa: se alguém 
está nos vampirizando, tirando nossa 
energia, bom humor, deixando-nos fracos – 
e isso realmente ocorre, tem um outro lado. 
Qual lado? Existe alguém oferecendo o pescoço.
 É verdade! Se existem vampiros, existem
 pescoços! E outra coisa: em algum 
momento da vida, somos vampirizados, mas também
 somos vampiros.
Neste mundo, nos relacionamos com empregados,

 com pais, com os filhos, com os vizinhos, com
 o cunhado, com a sogra, e até com os 
personagens da novela e os artistas e famosos... 
É uma troca constante de palavras, de elogios,
 de xingamentos, de emoções afetuosas e raivosas...
 Olhar somente os vampiros é olhar um lado só da
 moeda. Então, o que fazer?
Minha opinião é: observe os vampiros! E observe a

 si mesmo! Veja qual é a brecha que eles
 utilizam para entrar no seu pescoço. Pode
 ser o pedido dócil. Pode ser a imposição. Pode
 ser a hierarquia. Pode ser o grau de parentesco.
 Pode ser a chantagem.
E não se iluda: é dentro de casa que se encontram
 as maiores relações vampirescas! Sugamos e
 deixamo-nos sugar! E isto não é maldade! 
Achamos que temos que agüentar as pessoas que 
nos sugam, porque alguma crença diz que “é 
isto mesmo”, “ofereça a outra face”, “respeite
 os mais velhos”, “olha como fala”, “não
 posso fazer nada para não perder ‘a boquinha’”, 
etc.
Não estou dizendo para pregar uma estaca de

 madeira no coração do vampiro, até porque 
ele pode ser seu irmão, ou quem sabe, o seu
 próprio pai! Não, não é isso! Alguém que 
suga o outro, é porque quer ser feliz e não
 sabe como. Acha que sugar irá trazer felicidade,
 mas isto não ocorre. A única maneira de
 equilibrarmos estas relações de vampirismo
 é “escondendo o pescoço”, ou seja, descobrindo
 quais são nossas fraquezas que estão propiciando 
o vampiro de dar uma mordidinha!
Por exemplo: Será que você fala muito sim? Será

 que você se derreta diante de um olhar meigo? 
Será que alguém falar de sofrimento o deixa 
sensível e aberto? Será que alguém, só pelo 
fato de ser seu chefe, ganha o direito de 
“montar em cima”? Será que
 alguém, só por ser um parente próximo, não
 pode ouvir um “sai fora!”?
Geralmente, quando a pessoa que está nos 

vampirizando é muito próxima, existe uma
 relação emocional profunda e difícil de 
ser quebrada com um simples “não! Deixe
 este corpo que não lhe pertence!”
O que fazer? Passei por uma situação 

dessas recentemente. Emocionalmente eu não 
estava preparado para olhar nos olhos 
da pessoa e simplesmente explicar que 
eu não toleraria mais a “vampirização”. 
Mas a primeira coisa que se deve fazer é 
assumir que você quer e deve ser feliz,
 e qualquer pessoa, qualquer pessoa!, 
que esteja atrapalhando o seu equilíbrio 
e bem-estar, deve ser afastado.
Fiz isso. Sem mágoa, sem raiva, mas firmemente 

proposto a ser feliz. E fiquei um tempo afastado
 da pessoa. Até que o próprio tempo esfriou 
as emoções, e eu pude explicar que esta relação
 era destrutiva para nós dois. E cortei as 
minhas “fraquezas” que propiciavam eu ser vampirizado.
 Havia cobranças mútuas: eu fiz isso, agora 
você me deve! Tem que fazer aquilo!
Eu disse: não! Temos relação como seres 

iguais, perfeitos, ambos merecedores de respeito.
 Se não é possível que a relação seja nesse nível,
 não existe relação. Isto é amor profundo! 
Amo tanto a minha integridade, que olho para
 você e vejo a sua integridade! Se você deixar 
de ver os outros como culpados e olhar para 
a sua própria essência, daí sim estaremos 
unidos, como sempre estivemos.
O sol estava surgindo, e uma estranha 

fumaça começou a sair do vampiro. Ele, 
mais que rapidamente, saiu voando pela janela,
 em busca do conforto do seu caixão. Na
 fantasia de vampiro, nunca mais voltou.
 Como um ser dócil e amoroso, que é a essência
 de todo ser humano, começou a buscar proximidade. 
Deixo as portas e janelas abertas.
Mas ao primeiro sinal de dente pontudo...

Alex Possato15/05/2007

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