Inteligência

Inteligência é um daqueles atributos que, quando exibido por alguém, é evidente para a maioria das pessoas, senão todos. Capacidade de adaptação ao ambiente, capacidade de sobrevivência, capacidade de aprendizagem, capacidade de raciocínio associativo-criativo e/ou pensamento abstrato - são muitas e variadas as definições. Há quem prefira contrastar inteligência com seu oposto, o instinto, o inato, mas isso só realça a importância da capacidade de aprender. Aprender e criar talvez seja o binômio que melhor defina esta qualidade. Todos podem aprender e conhecer, mas sabedoria não é sinônimo de inteligência. Todos também podem criar, mas alguns saberão fazê-lo melhor que outros. No componente criatividade reside, a meu ver, o que é mais relevante sobre a inteligência, mas nele mesclam-se, de forma indissociável, talentos herdados com habilidades aprendidas, de modo que não me parece possível distingüir qual fator é mais importante. Existe, contudo, um condicionante que não pode ser esquecido, a oportunidade: embora todos sejamos igualmente dotados (biologicamente) para exibir inteligência, a poucos é facultado seu pleno exercício. Os problemas surgem quando a admissão de que os homens possuem diferentes níveis de inteligência é ressaltada sem se levar em conta o histórico das oportunidades. Isso favorece descuidos como o de concluir que tais diferenças são imutáveis, e, pior, deixa caminho livre para que se tome como natural uma distribuição desigual de direitos apenas em função destes desníveis. Definir inteligência, portanto, é um problema, já que há diferentes paradigmas conceituais e - ali inevitavelmente entrincheiradas - diferentes posturas político-ideológicas. Os psicólogos têm evitado elaborar definições muito como reação ao reducionismo psicométrico dos promotores dos testes de QI (este é mais um slogan que um conceito científico). Do racismo colonial europeu ao darwinismo social da Belle Époque, do segregacionismo nazi-fascista e supremacismo anglo-saxão à moderna sociobiologia, tais teorias enquadratórias são recorrentes. A última e arrojada investida foi feita pelo livro "The Bell Curve", amontoado de preconceitos raciais supostamente científicos. Esfriado o entusiasmo inicial, a intelectualidade politicamente correta pariu a teoria-compensação da "Inteligência Emocional", aquilo que os naturalmente menos dotados (negros e latinos segundo seus autores) podem desenvolver para compensar suas limitações... É uma teoria bastante honesta nestes tempos de globalitarismo (neo)liberal.

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